“Junto é sempre melhor do que sozinho.” (Autor desconhecido)
Muito se fala atualmente sobre parcerias, alianças estratégicas, fusões etc. No mundo contemporâneo e nesse cenário de imensa competitividade e luta pela sobrevivência, nunca se viu tanta empresa querendo se associar, buscando “tocar” projetos em parceria, lançando produtos e abrindo mercados através de join-ventures com outras empresas. No campo pessoal, as igrejas também estão abarrotadas de gente querendo casar. Tudo isso suscita questões e contradições: afinal, qual é a razão dessa sede de “juntar as escovas de dente” neste início de século?
Por outro lado, não dizem por aí que o mundo anda egocêntrico? Por que, então, essa apologia da união está tão em voga que virou até slogan de banco (refiro-me ao “Juntos” da campanha publicitária do Santander)?
A resposta me parece simples. E a lógica, meramente econômica. Há um momento em que os nossos recursos acabam ou não são suficientes. Estou falando dos três recursos escassos que administramos: Tempo, Dinheiro e Energia Mental (pessoas, competências, habilidades). Quando uma dessas dimensões acaba ou não é suficiente para viabilizar um projeto, precisamos de parcerias. Necessitamos de complementação. Esse, obviamente, é um lado da história, o lado profissional, corporativo. No aspecto humano existem outras razões. Casar ou cultivar uma amizade envolve não só questões econômicas, mas afetivas e espirituais, apenas para destacar as mais evidentes Entretanto, as bases e a necessidade de complementação é a mesma. Queremos fazer coisas juntos porque sozinho é mais difícil e muitas vezes, menos prazeroso.
Se você, por exemplo, é uma daquelas pessoas que flerta com a solidão, gosta de viajar só e de ir ao cinema apenas com a pipoca, talvez considere polêmica a minha tese. Mas deve reconhecer o fato de que a sociedade está carente e de que esse sentimento também povoa as organizações.
Meu objetivo não é encontrar a gênese das uniões. Quero discutir o que uma parceria, seja ela profissional ou pessoal, precisa ter, na sua essência, para ser bem sucedida. Começando pelo que considero o seu principal fator crítico de sucesso ou fracasso: a complementaridade. Penso que as pessoas e organizações terão maiores chances de sucesso junto, na proporção direta da capacidade de uma contribuir para o atingimento dos objetivos da outra, utilizando suas competências, recursos e habilidades. Em qualquer união, o sucesso depende da capacidade de “um” transformar os problemas do “outro” nos SEUS problemas. E as vitórias do outro em SUAS vitórias.
Pode parecer uma forma simplista de abordar a questão, mas é uma maneira simples e observável: lembre-se, por exemplo, de um casal amigo, que vive um relacionamento sólido há bastante tempo. Você perceberá claramente que, salvo as exceções de praxe, ambos possuem um elevado comprometimento com os problemas e as conquistas do outro. Comemoram as vitórias do outro como se fossem suas. Colocam várias vezes, o interesse do outro acima do seu. Diante de outras pessoas, valorizam o outro, enaltecem, elogiam, aplaudem. Longe de ser filosófico, esse é, na minha visão, o único ponto comum e constatável até hoje nas parcerias que se tornaram perenes.
No caso de união entre pessoas jurídicas, é também o conjunto de esforços e a complementaridade que determinam o sucesso. Necessariamente há outros ingredientes importantes na receita desse prato. Valores semelhantes, objetivos congruentes e desafiantes, são alguns deles.
Simples no papel, mas tão difícil na prática. É o que dizem sobre relações humanas. No caso específico das uniões, acredito que podemos sintetizar em três pontos a razão de uma morte precoce: O primeiro chamo de “contratos furados”. O segundo de “falta de paciência” e o terceiro de “subjetividade da balança”.
Os “contratos furados” ocorrem no início da parceria. Cada uma das partes precisa ter claro quais são seus objetivos, suas estratégias, suas competências, seus recursos e suas fragilidades. E, além de analisar se esses pontos convergem, precisam saber expô-los para o potencial parceiro. Quando isso não ocorre, surpresas desagradáveis podem acontecer no futuro. Daí para o rompimento é um pulinho.
“Falta de paciência”... quem não houve falar nesse mal ou mesmo se pega sofrendo dele?. O fato é que as pessoas e organizações depositam reciprocamente uma expectativa excessiva. Querem ver a coisa acontecer e com um senso de urgência jamais visto. Querem ver logo os resultados. Com o nível de cobrança fora de controle os pilares começam a ruir. Como um bom vinho, toda união precisa de maturação. Um tempo para que as partes se acostumem com a nova realidade e com a presença do outro na sua vida e nos seus projetos. Os “fios se conectam aos poucos” e nem sempre na velocidade que gostaríamos. Por isso é indispensável que os objetivos sejam realmente relevantes para ambos e que o prazer de estar juntos seja perceptível não apenas pelos resultados que se busca, mas também pela alegria de dividir a jornada.
Por último, o que chamo de “subjetividade da balança” é a impossibilidade de se calcular efetivamente se os benefícios e os custos da parceria são iguais para as partes envolvidas. Acordar todos os dias se perguntando se você está oferecendo mais do que recebendo, faz com que a união seja questionada na sua essência. Essa é uma conta difícil e eu não recomendo que seja feita precocemente. Deixe que a sabedoria do tempo responda essa questão. A métrica, na verdade, deve ser outra. A pergunta correta a ser feita é se “sozinho é melhor ou pior do que junto com o parceiro”. Ou até mesmo, se é possível sem ele.
Se você desenvolver esta capacidade de empatia, nos bons e maus momentos da relação, irá ter sempre grandes parceiros na sua vida. Seja em uma empresa ou na vida pessoal. Porque o verdadeiro casamento é o das intenções.
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Marcelo Veras
Vice presidente Acadêmico - ESAMC
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