terça-feira, junho 26, 2007

Inovações Tecnológicas

Uma inovação pode ser definida como a exploração bem sucedida de novas ideias. Tal definição pode ser aplicada não só na área tecnológica, mas também nas áreas de produção e gestão, abrangendo manufactura, marketing, distribuição, estilo de gestão, organização empresarial, etc. A introdução no mercado de uma inovação procura invariavelmente os benefícios de uma vantagem competitiva, crescente fracção de mercado, maior taxa de crescimento, ou redução de custos, tendo como objectivo último alguma forma de maximizar o lucro.

Como inovação tecnológica entende-se uma solução técnica que é incorporada ao sistema económico de produção. Uma definição amplamente aceite de tecnologia é de que é a manipulação e o controlo de objectos físicos para a satisfação quantitativa de necessidades e/ou desejos. A palavra quantitativa é aqui colocada para diferenciar tecnologia das artes em geral, em que também existem inovações, porem com o intuito da satisfação qualitativa ou estética. Cumpre destacar, entretanto, que muitos bens de consumo e suas respectivas inovações são de facto uma combinação de arte e tecnologia.

Por exemplo, ao adquirir um automóvel, o consumidor procura obter um meio de transporte para uma solução quantitativa (redução do tempo e do custo de deslocação), como também pode procurar uma solução qualitativa/estética, como a beleza do automóvel ou o seu "status" social.

Conforme sugerido por Devezas, as inovações tecnológicas podem ser classificadas quanto ao seu impacto social, ou seja, sua maior ou menor influência nos hábitos do consumidor e da sociedade em geral. Podem ser distinguidos pelo menos 3 grandes grupos, sendo de se destacar que a linha divisória entre estes grupos é de difícil definição.

Assim tem-se:

1 – Inovações por transformação do produto: neste caso pode-se dividir as inovações em 2 subgrupos.

Um primeiro diz respeito às inovações que se constituem em pura modificação do produto, uma modificação do seu "lay-out" ou embalagem, ou sua aparência externa. Surgem no mercado por razões estéticas ou redução de custos, ou para incentivar o consumo, ou para atender a novas normas, ou tendências de mercado (moda!). Não há necessariamente uma melhoria no desempenho. Não tem nenhum impacto social, não provocam alterações nos hábitos do consumidor.

O segundo grupo diz respeito às inovações por melhoria no desempenho, como por exemplo a procura incessante por automóveis de menor consumo de combustível ou por computadores pessoais de maior capacidade (modelos Pentium III em lugar dos Pentium II, que sucederam aos Pentium etc...). Seja qual for o caso, entre os acima expostos, este tipo de inovações têm muito pouco ou quase nenhum impacto social, e os seus efeitos de mercado são perfeitamente previsíveis.

2 – Novo produto: consistem nas inovações que representam uma nova forma de usar uma tecnologia já existente. Dois exemplos recentes são o computador portátil e o telemóvel. Em maiores dimensões são também inovações deste tipo a locomotiva eléctrica ou diesel em substituição às locomotivas a vapor e o avião a jacto ou turbo-hélice em substituição aos aviões convencionais a hélice. Têm um relativo, às vezes considerável, impacto social. Modificam um pouco os hábitos das pessoas e têm alguma influência em outros segmentos do mercado. Constituem em muitos casos uma substituição tecnológica, como nos casos dos meios de transporte já citados, ou como no uso de fibras sintéticas em substituição às fibras naturais na indústria do vestuário. Sobre estas inovações pode-se dizer que também o seu efeito e a dimensão do mercado são, em princípio, previsíveis.

3 – Produto absolutamente novo: são as chamadas inovações de base, produtos ou tecnologias que surgem no mercado e que não existiam antes, como por exemplo a lâmpada eléctrica, o frigorífico, a máquina de escrever, a locomotiva, o telefone, a televisão, o automóvel, o avião, etc., só para citar alguns. Têm um imenso impacto económico-social, uma vez que transformam por completo os hábitos das pessoas e o sistema produtivo, significam novas industrias e novos sectores de produção, provocam uma verdadeira transformação da sociedade como um todo. Em geral representam a concretização de uma procura antiga e de uma ansiedade humana, e por esta razão não há uma avaliação do seu impacto (mesmo porque talvez esta seja muito difícil!), não há um dimensionamento adequado do sistema produtivo em relação ao mercado possível.

Afinal, sendo uma novidade absoluta e o resultado de uma procura antiga, para quê prever? Prever o quê? Este facto talvez esteja por detrás das causas das crises e desastres económicos que temos presenciado no desenrolar da história recente da sociedade humana.

Um dos objectivos do presente trabalho será o de mostrar que o fenómeno "Internet" constitui-se em uma autêntica inovação de base, em plena fase de adopção em nossos dias.

Vamos começar por analisar os chamados "estágios da inovação". Poucas, ou quase nenhuma inovação tecnológica, sai directamente da mente fértil de um inventor para a sua utilização global. Ela passa por um número de estágios durante esse caminho, em que cada patamar desses estágios representa um maior grau de aplicação prática e de facilidade de utilização da inovação. Os estágios que cada inovação passa segundo a classificação de Bright são os seguintes:

Descoberta científica
Viabilidade laboratorial
Protótipo operacional
Introdução comercial ou uso operacional
Adopção generalizada
Difusão para outras áreas
Impacto económico e social

Estes estágios não são necessariamente seguidos por cada inovação. Algumas não precisam das primeiras etapas, outras, como já vimos, não têm nenhum impacto social. Uma importante característica de uma inovação de base, é que ela passa certamente por todos estes estágios, podendo mesmo utilizar-se este critério como uma forma de identificar se é uma inovação de base ou não. A ilustração mostrada a seguir, sugerida por Martino, nos dá uma ideia concreta da sequência lógica destes estágios.

Podemos agrupar estes estágios em fases dizendo que os estágios 1 e 2 correspondem a uma Fase da Invenção propriamente dita, os estágios 3 e 4 correspondem a uma Fase da Inovação, e que os estágios 5 e 6 correspondem a uma Fase da Difusão. O estágio 7 diz respeito a uma Fase de Consolidação definitiva da inovação.

Para que ocorra uma inovação tecnológica devem ocorrer interacções entre o sistema económico de produção (utentes da tecnologia) e a comunidade científica e tecnológica (que gera a tecnologia). Este modelo paralelo estabelece que a ideia inicial para uma inovação é o resultado de pelo menos dois passos precedentes:

1 – a identificação de uma necessidade ou oportunidade no sistema económico;
2 – a identificação de meios técnicos na área científica e tecnológica.

Após o 2º passo é que são empreendidas as acções de pesquisa básica objectivamente orientadas, o desenvolvimento e a engenharia. Apenas após todas estas acções é que a inovação, ou melhor, a solução tecnológica é incorporada no sistema económico.

Assim, o processo tecnológico obedece à sucessão:
ciência --> tecnologia --> inovação tecnológica.

As inovações tecnológicas são introduzidas no mercado de uma forma mais ou menos contínua, atendendo às acções anteriormente citadas, e lutando contra pressões contrárias, bloqueadoras do processo tecnológico, tais como tempo e capital. Este processo tecnológico atendendo à interacção paralela entre o sistema económico e a comunidade técnico-científica é bem aplicável às inovações dos tipos 1 e 2 já analisadas, mas não necessariamente às inovações de base. Estas obedecem bem à sucessão ciência, tecnologia e inovação, mas, conforme já referido no capítulo 0, fogem à regra quanto ao fato de não surgirem no mercado de uma forma contínua, mas sim aos surtos, de uma forma completamente sinergística.

Como já foi visto, existe uma relação causal muito profunda entre inovações de base, surtos de desenvolvimento e depressões económicas, sendo esta relação causal a responsável pela existência das ondas longas do crescimento socioeconómico ou ondas de Kondratieff.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

adoro o seu blogue

6:38 da tarde  

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