terça-feira, julho 18, 2006

O profissionalismo

Jorge A. Vasconcellos e Sá

O eng. Guterres iniciou funções prometendo mudar Portugal. Abandonou-as acusando os portugueses de serem pouco profissionais. Tem razão. Relativamente a alguns. Por 3 razões.

Primeiro, a tradicional atitude de alguns portugueses face ao trabalho: pouco, devagar e mal.
O trabalho é um aborrecimento, que não se deve levar muito a peito, porque tanto faz. Ora se tanto faz, faz de conta. Este é o resultado de trinta anos de social-laxismo. Contudo, para onde os portugueses emigram (Suíça, Canadá, etc.), a atitude é a oposta. O trabalho é assunto sério, que permite proteger as nossas famílias e realizar-nos pessoalmente.
O trabalho nesses países requer quantidade (capacidade), qualidade (rigor) e pragmatismo, sendo o tempo o grande recurso escasso da vida, já que esta é uma história que no fim acaba sempre mal... Donde: procurar a solução e não o problema; criar facilidades e não levantar dificuldades. Simplificar e não complicar. Problemas, dificuldades, complicações? Até uma criança de seis anos faz. Soluções? Este é o sinal do profissionalismo. Contudo, em Portugal, muitas pessoas se reúnem contra e não com outros.

Segundo: o misturar das questões pessoais com profissionais. Advogados que por não gostarem do cliente, aceitam o seu dinheiro, mas não o defendem convenientemente. Gestores que só se esmeram com “tipos simpáticos”. Comentadores que opinam em função das suas embirrações pessoais. Ora o profissional é aquele que não deixa questões pessoais intrometerem-se na sua profissão.
Simpatias com XPTO? Fim-de-semana com ele. No trabalho, o meu amigo é o bom defesa direito e não o simpático defesa esquerdo que fez com que perdêssemos o jogo. Protegê-lo é uma desonestidade perante toda a equipa e uma desnecessidade perante ele, já que a sua vocação está noutra posição, noutra equipa ou noutro jogo. Onde seja parte da solução e não do problema.

Terceiro: o ‘lobbi’. Nos EUA tem objectivos externos (contra o aborto, as armas pessoais, etc.), os seus membros são públicos e a sede está aberta.
Em Portugal? O objectivo é interno (autopromoção). A filiação sub-reptícia. E a sede é o tráfego de influências. Há os ‘lobbis’ políticos e os outros. Mas o resultado é sempre o mesmo: sectarismo e facciosismo.
Resultado? O mercado não funciona. Falta a concorrência com base no mérito (preço e qualidade) que é preterida por “razões que a razão desconhece”. Donde, a economia de mercado é substituída pela economia de ‘lobbi’.

Resultado destes três factores em conjunto (desleixo, pessoalização e ‘lobbi’)? A meritocracia é substituída pela mediocridade. E não há plano tecnológico. Não há fundos de Bruxelas. Não há nada, que compense isto. Porque a semente só brota quando o terreno é fértil.
O amadorismo? É não só negativo perante a sociedade como uma injustiça perante Deus, já que se as nossas qualidades são prenda de Deus a nós, o que fazemos com elas, é a nossa prenda a Deus.


Até quando? Até a guerra cultural entre profissionais e amadores for vencida por aqueles. Só então Portugal progredirá. Como? Criando os incentivos (liberalização) adequados. Porquê? Porque “aquilo que se incentiva, é aquilo que se obtém” (J. Welch).

Jorge A. Vasconcellos e Sá, Professor da Universidade Técnica de Lisboa e PhD pela Columbia University