Os Caça Tendências
Os caça-tendências(22-04-2009)
por Marisa Antunes
Descobrir o que é cool e o que está na crista da onda pode ser a garantia de sucesso num negócio que ainda vai ser lançado ou noutro já instalado. Mesmo em tempos agrestes. Numa altura em que vão à falência cerca de 11 empresas por dia, em média (números da consultora Informa Dun & Bradstreet para o primeiro trimestre deste ano), conseguir descobrir o que distingue a organização em relação aos seus concorrentes garante a diferença na guerra pela sobrevivência.
Carl Rohde, CEO da empresa Science of Time, a maior organização do mundo em pesquisa de tendências, esteve esta semana em Lisboa para falar de “recessão saudável” e explicar de que forma as correntes da moda — sejam elas no vestuário, na hotelaria, restauração ou qualquer outro mercado — podem ajudar a catapultar uma empresa.
Partindo do pressuposto de que aquilo que é novidade pode valer milhões no futuro, se bem aproveitado, a Science of Time presta um serviço de consultoria que tem ajudado nas decisões estratégicas de organizações como a Coca-Cola, a Wrangler ou a Unilever.
Carl Rohde realçou ao ExpressoEmprego que muitas vezes é nos momentos conturbados que se conseguem as melhores oportunidades. “Em tempos de crise há duas formas de enfrentar as dificuldades: a primeira é na defensiva, com raiva e amargura; a outra reacção, a que apelidamos de ‘abordagem da resiliência', surge quando pensamos que, ainda que exista dificuldade, esta vai tornar-nos mais fortes e criativos. E com estes novos poderes de criatividade nós conseguiremos subir mais alto e crescer, crescer acima do risco”, sublinhou o especialista em sociologia cultural e também professor da Universidade de Utrecht, na Holanda, onde coordena o departamento de comunicação de massa e ciências sociais.
Em Portugal desde Janeiro, a Science of Time é “a maior network do mundo em pesquisa de tendências, centrada nos comportamentos dos consumidores que dão origem a percepções que, por sua vez, derivam em produtos, negócios, campanhas ou marcas (a teoria do cool hunting )”, reforça também Luís Rasquilha, managing partner da Ayr, a empresa que representa a Science of Time no nosso país.
Esta network foi fundada por Carl Rohde há 15 anos e tem actualmente cerca de 500 consultores espalhados por todo o mundo. De seis em seis semanas eles actualizam as tendências, que são organizadas por áreas de comportamento de consumidor.
Gestão de sorrisos
Muitas destas tendências de consumo são determinantes para novas orientações ou redefinições estratégicas. “Nós trabalhamos na génese daquilo que dá origem a produtos, novos serviços e novas campanhas de marketing . Um exemplo: durante muito tempo, as calças de ganga estavam associadas à durabilidade, mas a actual tendência de consumo associa a ganga à diversão, e por isso as campanhas publicitárias passam essa mensagem de alegria e momentos passados com os amigos”, explica Luís Rasquilha, que é também professor universitário no INP-Instituto Superior Novas Profissões. Assim, seja em produtos de consumo, seja na área dos serviços, é possível saber qual a corrente de comportamento antes da aposta empresarial.
O managing partner da Ayr dá ainda outro exemplo: “Imagine-se um grupo hoteleiro que comprou um terreno no centro de Portugal e que se questiona qual o tipo de hotel que vai construir naquele local. É preciso analisar o actual comportamento de quem procura esses serviços, qual a evolução das suas mentalidades para se concluir se será mais direccionado para os seniores, para famílias, para os executivos, ou outros. Costumo dizer, em jeito de brincadeira, que fazemos a gestão de sorrisos e bem-estar, extraímos daí a informação que necessitamos, damos conteúdo empresarial e transferimos isso para as empresas que as transformam em negócios”.
Novos negócios, mesmo em períodos de recessão, como reforça Carl Rohde. “Os executivos, os marketeers, os CEO estão retraídos com a actual situação económica, o que é natural pois estamos de facto a passar por momentos difíceis e, por isso, cortar nos custos é razoável. Mas nas minhas viagens pelo mundo fora, tenho ficado surpreendido com o medíocre défice de imaginação de muitos profissionais”.
Para o mentor da Science of Time, “a recessão é a altura em que se deve agitar as coisas, ver as oportunidades que existem e trabalhar arduamente para um futuro bem-sucedido”.
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