Recrutar no Berço
No outro dia desfolhei o jornal de emprego em busca da chamada recuperação. Um dos bons sinais de retoma é medido pelo número de páginas que os suplementos de emprego das mais diversas publicações têm e a oferta que apresentam. É sinal que as empresas estão a apostar em novos projectos e que necessitam de Know How e de quadros que possam dar um apport real a novas ideias ou re-trabalhar projectos existentes, que foram sendo adiados.
Ciente da importância que as pessoas têm para as empresas numa óptica de obtenção de resultados, cada vez mais o espaço é para aqueles que têm qualidades técnicas e traços de personalidade que possam ser vistos como uma mais valia para a empresa.
Até aqui nada de novo. A busca de quadros com Know How e acima de tudo com potencial. Qual não foi o meu espanto quando constatei que a maioria dos anúncios de emprego visavam o segmento dos finalistas ou dos recém-licenciados (bem precisam eles de trabalho e as empresas de sangue novo) na busca de estagiários que quisessem “começar a carreira, que tivessem espírito de iniciativa, vontade de integrar uma sólida empresa (se todas são sólidas – vale a pena perguntar porque é que somos o país da Europa com maior número de empresas a encerrarem?) e que tivessem uma experiência mínima de 1 ano em funções similares”! E esta hein?!
Ainda não se entendeu a diferença entre Estagiário e Júnior. Aquilo que nas agências são Trainees e Juniores. Têm diferenças enormes embora à partida não pareça. Um Estagiário é alguém que nunca trabalhou, que tem uma formação a terminar ou terminada recentemente e que busca o chamado primeiro emprego. É alguém que vai aprender a vida activa da empresa. Vai ver como os outros fazem e tentar extrair o que de melhor há como forma de completar a sua formação e progredir profissionalmente, para poder passar a Júnior, 3 meses depois. O Júnior é alguém que já tem experiência, que já pode e deve assumir alguma responsabilidade e que deve ser já parte activa no processo.
A diferença é que o primeiro não recebe para fazer o estágio, enquanto que ao segundo já lhe pagam para trabalhar. As empresas procuram mesmo é quem não receba nada, ou até mesmo quem pague para trabalhar. E encontramos dezenas de empresas carregadas de estagiários, inexperientes, receosos e que em vez de estarem a aprender com pessoas mais seniores, estão a executar antes mesmo de saberem como fazer. Mas para a empresa é mais barato e o cliente paga. Até um dia. As agências sabem do que falo.
A retoma parece adiada fruto de uma mentalidade assente na ideia de que apenas os estagiários resolvem os problemas das empresas, dos clientes e das marcas. Eles são pedra fundamental nas novas ideias, mas o sucesso alcança-se com o mix de juventude e experiência. E não se conseguem estagiários com experiência. Para isso suceder há que começar a trabalhar ainda no berço. Se calhar é uma opção de recrutamento a ter em conta. Não se lhes paga na mesma e a banda sonora da empresa ganha novo fôlego.
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