O que vale numa Start-Up
Uma empresa normalmente é avaliada pelos seus activos, mas quando se trata de uma "start-up", esta avaliação muda. Vejamos porquê. Numa "start-up", o maior activo não é uma máquina que esta adquiriu, ou eventualmente um imóvel, mas, sim...
Numa nova empresa, os sacrifícios são feitos apenas pelo promotor enquanto os resultados beneficiam todos os investidores. Saiba por que ao seu esforço deve ser atribuído um valor económico.
Uma empresa normalmente é avaliada pelos seus activos, mas quando se trata de uma "start-up", esta avaliação muda. Vejamos porquê. Numa "start-up", o maior activo não é uma máquina que esta adquiriu, ou eventualmente um imóvel, mas, sim, o promotor ou os promotores da nova empresa. Por norma, uma "start-up" começa com os seus promotores e prolonga-se por alguns anos, apenas com eles, ou eventualmente com mais um ou outro colaborador, que certamente também será estratégico para a empresa. Isto acarreta um grande peso e valor, muito mais do que qualquer activo da empresa, porque sem os promotores a empresa morre.
Contudo, existe um problema com esta avaliação, que é grave. Aqueles que querem investir, ou que já investem, em "start-ups", tendem a desvalorizar, desde o ponto de vista económico, os promotores da actividade. Existe efectivamente aquele racional e comentário, de que "se queres ser empreendedor, tens de te sacrificar e, inclusive, trabalhar gratuitamente". Não deixa de ser verdade que o promotor terá de passar por sacrifícios - eu que o diga - mas quando esses sacrifícios não são tidos em conta, no lado económico, ou seja, não valem economicamente nada, isso pode ser um erro grave.
Falando do valor económico de um promotor, quero deixar claras algumas coisas. Quando o promotor decide trabalhar para a sua empresa, onde outros investem, de forma gratuita, isto significa que o promotor assume que não pretende carregar a empresa com o seu custo, por uma ou outra razão, sendo esta decisão de louvar. Porém, não deve esquecer que esse "não custo" para a empresa significa duas coisas. Uma, que é o não estar a contabilizar anos de trabalho para a sua reforma; outra, que está indirectamente a financiar os seus investidores.
Porquê indirectamente a financiar os seus investidores? Porque o custo do seu ordenado, que deveria ser suportado por todos os investidores, incluindo o promotor, que normalmente também investe, só está a ser suportado pelo promotor, ou seja, é o mesmo que o promotor esteja, sozinho, a realizar suprimentos à sociedade. Mas isto não é visto assim pelos investidores, porque estes pretendem poupar capital e, obviamente, o custo mais fácil de se cortar é o do promotor. Se assim o pretendem fazer, o promotor deverá contabilizar esse custo, como valor a seu favor na sociedade, que deve ser, por exemplo, contabilizado como acções a seu favor. Já que o promotor está a investir indirectamente, então que esse investimento se transforme em acções da empresa.
No entanto, ainda fica por considerar o lado pessoal destes prejuízos, ou seja, os anos de trabalho a descontar, que não estão a ser contabilizados, pelo que deve ponderar por quanto tempo quer estar nesta situação. Uma alternativa poderá passar por descontar o ordenado mínimo para não perder anos de trabalho com a segurança social.
Quando encontra um investidor, deve ponderar seriamente este ponto. O investidor tem de o ver como o maior activo da sua empresa. Se não o vê, já é um mau princípio. O que é que vale mais? Você como promotor ou a máquina que comprou, ou o edifício onde está, ou o carro de empresa que tem? Obviamente que é você quem vale, e nada mais.
Infelizmente, no empreendedorismo existe um fenómeno de aproveitamento que não deixa valorizar economicamente o promotor, porque o investidor é quem tem o dinheiro e é de quem o promotor depende para realizar o seu sonho, sujeitando-se a tudo o que o investidor decida. Trabalha horas sem fim, sem remuneração, para valorizar o investimento dos seus investidores e, se as coisas correm mal, perdeu todo esse rendimento que lhe pertencia. Por que é que o contabilista é pago e você não? É o contabilista que vai enriquecer o seu investidor? Se o negócio prospera convenientemente, todos querem os seus lucros e, nessa altura, o promotor não tem direito a nada mais do que o valor correspondente às acções ou quota por ele detidas. Nessa altura, somos todos iguais e o esforço do promotor não será compensado. Deve existir um esforço acrescido do promotor, mas a compensação tem de estar à vista.
Em resumo, o investidor não pode, nem deve, descurar o valor económico do promotor, porque é nele que o seu capital está investido. Mas como o investidor sabe que o promotor depende economicamente de si, este vai aproveitando tudo o que pode e não pode, até ao dia em que o promotor decide por em causa o seu valor económico, algo que certamente assustará o investidor. Respeitem-se mutuamente e os valores aparecem. O respeito numa única direcção pode ser perigoso. O que vale mais numa "start-up"? É sem dúvida o promotor. No entanto, existem dependências que fazem esquecer este importante ponto, tanto ao promotor como ao investidor.
Dicas
1. Como investidor, saiba valorizar o seu maior activo, ou seja, o promotor.
2. Como promotor, saiba que tem de se sacrificar, mas procure que os outros o reconheçam, economicamente, e não apenas por palavras.
Fonte: www.negocios.pt